terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Círculos de Histórias

A convite das instituições Museu da Pessoa, ASHOKA e Mais Diferenças, que contataram os jovens do Corposinalizante, fizemos um trabalho de formação de professores em Círculo de Histórias, metodologia que usamos em nosso filme "Corposinalizante".

Então, como é um Círculo de Histórias? Cada um conta uma história da sua vida, escolhendo uma coisa muito importante ou marcante que aconteceu. Para aquecer este círculo, também usamos mímica, onde cada participante fala um pouco do que fez no dia anterior ao encontro.

No primeiro dia de formação trocamos exemplos da vida com professores e jovens estudantes, foi um dia longo e emocionante, um trabalho maravilhoso e um prazer ter conhecido as pessoas da ASHOKA e os professores de outros lugares.

Depois, no segundo dia de formação, o Corposinalizante teve outro encontro com jovens, na CASA DAS CALDEIRAS. Conhecemos mais pessoas novas e outros estudantes. Fizemos Círculo de Histórias novamente e, ainda mais, tivemos o processo filmado pelo pessoal da ASHOKA e Mais Diferenças.






evento na Casa das Caldeiras onde fizemos o 2º Círculo de Histórias


Para mim, foram dias muito especiais, por ter conhecido pessoas novas e professores.

Mostramos que não tem diferenças entre pessoas profissionais e jovens para um trabalho comum e de contação de histórias de vida.

Esse momento é muito especial para o nosso blog e para nossos trabalhos se espalharem pelo mundo todo. Pensamos que precisamos unir pessoas que precisam da nossa alegria e da nossa compreensão do mundo!






Círculo de Histórias na Cada das Caldeiras

texto: Luana Milani
fotos: Leonardo Castilho (com celular!) e
Cibele Lucena

domingo, 6 de dezembro de 2009

Esse é o Corposinalizante!

Em 2009 a jornalista Ana Maria Peres nos entrevistou por e-mail para escrever a matéria "DIRETO DO FRONT" (Revista TRIP, ano 23, outubro 2009, Nº 182, pág. 116). As respostas para suas perguntas foram construídas coletivamente pelo grupo.

Como o Corposinalizante se conheceu?

Começamos a fazer parte do projeto Aprender Para Ensinar do MAM-SP. Esse projeto existe desde 2002 e prepara jovens surdos para atuar como educadores em visitas às exposições do museu. Dessa forma, quando crianças, jovens e adultos surdos vão até o MAM, são recebidos por educadores também surdos que utilizam a Língua Brasileira dos Sinais (LIBRAS).

O Aprender para Ensinar, coordenado pelas professoras-artistas Cibele Lucena e Joana Zatz Mussi, é um projeto onde aprendemos sobre artistas e exposições, conhecemos diferentes culturas, entendemos a nós mesmos e discutimos como compartilhar conhecimento com a comunidade surda. No final do ano os participantes recebem grupos de alunos de várias escolas parceiras, como Helen Keller, Anne Sullivan, Escola para crianças surdas Rio Branco, Santa Terezinha, Fundação Bradesco, Derdic e etc. para realizar uma visita em LIBRAS em exposição do MAM.

Esse projeto deu origem ao Corposinalizante, um grupo de jovens artistas, educadores e pesquisadores surdos e ouvintes, formado em São Paulo em 2008. O Corposinalizante é um espaço para aprofundar nossos conhecimentos, expandir nosso olhar e horizontes e ajudar a acordar o mundo.


Antes do Corposinalizante, vocês participaram de outros movimentos? Quais?


Participamos de uma passeata contra o fechamento das escolas para surdos na Av. Paulista com mais de 2 mil pessoas (surdos, ouvintes e interpretes) em novembro de 2007, quando o governo queria fechar as escolas especiais para surdos, nos obrigando a entrar em escolas comuns. Nós fomos contra essa rejeição da cultura surda e nos mantivemos firmes em nossa posição.


Qual é a história do Corposinalizante? Há quanto tempo existe e como começou?

O Corposinalizante surgiu com a criação deste blog em 7 de novembro de 2008. Nossa idéia era reunir um grupo de jovens artistas, educadores e pesquisadores surdos e ouvintes para realizar formação de jovens, reportagens, pesquisas, encontros com artistas e educadores, documentários, performances e intervenções urbanas, constantemente publicadas neste blog.

O motivo do surgimento do grupo é quebrar as barreiras de comunicação da comunidade surda e também mostrar ao mundo que os surdos são tão capazes como os ouvintes. Nossa primeira campanha foi para acabar com a história do cinema nacional não ter legendas: “Queremos legendas nos filmes nacionais”. O governo e a sociedade ouvinte em geral não apóiam os surdos, por isso nós nos organizamos com criatividade, através da arte, para fazer protestos.

Como funciona a dinâmica do grupo? Com que freqüência se encontram, quantos participantes existem, qual a faixa etária dos participantes?

Os encontros acontecem toda quinta-feira após a aula do projeto Aprender para Ensinar, no MAM-SP, quando discutimos idéias para divulgar nossos projetos, novas matérias para o blog, convites para participarmos de outros projetos etc. Também trocamos informações virtualmente, através de um grupo de e-mail. Atualmente somos em 11 participantes, com faixa etária de 18 à 36 anos.

Quais são as principais reivindicações?

A nossa principal reivindicação é lutar pelos direitos dos surdos através da arte e da cultura. A partir disso várias ações foram realizadas pelo grupo.


Quais países vocês consideram referência em relação a políticas públicas para deficientes auditivos e por quê?


Noruega, porque foi o primeiro país a dar apoio aos surdos, declarando a língua de sinais como língua oficial (NSL) na década de 1980, o que só viria a acontecer no Brasil em 2002, entre outras ações favoráveis aos surdos que serviram de exemplo para vários países, inclusive o Brasil.

Quais foram as principais ações do Corposinalizante? Quando ocorreram?


As Principais ações do Corposinalizante foram:


O filme-manifesto "Atrás do Mundo", que fala sobre a falta de legendas em português na produção nacional. O mote principal do filme foi a frase, escrita pelos grupo e já utilizada em vários suportes como forma de manifestação: "Queremos legendas nos filmes nacionais". O título "Atrás do mundo" é porque aí está contida também uma idéia de que as coisas estão sempre atrás ou adiante de outras coisas, ou seja, sempre compreendemos as coisas a partir das relações estabelecidas entre elas. Assim, a língua é em si uma ferramenta fundamental que "media" o pensamento: não há pensamento sem língua e linguagem. Então, é como se a legenda fosse também algo que media a relação entre espectador-obra neste caso, que está "à frente" de um mundo enorme que pode se descortinar, ou não. 5 minutos, abril de 2009, legendas em português, disponível em nosso blog e no Youtube. (www.youtube.com/corposinalizante)


O Filme "Corposinalizante", que mostra depoimentos de surdos de diferentes idades, com experiências diferentes, em um círculo de histórias de vida (metodologia que aprendemos no Museu da Pessoa). 7 minutos, abril de 2009, legendas em português, disponível em nosso blog e no Youtube. (www.youtube.com/corposinalizante)


Outras ações que aconteceram foram encontros com artistas, intervenções na cidade para produção destes filmes etc.


Como é a rotina de vocês?


Depende muito da ação que estamos desenvolvendo. O que é rotineiro mesmo são os encontros semanais no MAM. Na produção do filme “Atrás do Mundo” tivemos uma rotina bastante agitada, pois foram várias intervenções pela cidade a fim de coletar imagens e dados para o filme.

Vocês gostariam de trabalhar com política? Por quê?


Sim, porque a maioria das leis nacionais, estaduais ou municipais que existem, inclusive as leis que apóiam os surdos e outros deficientes, não funcionam. Percebemos que é preciso mais pessoas pensando e realizando ações a favor das minorias. Parte da sociedade ainda nos vê como doentes mentais e nos afastam como gueto. Por isso, acreditamos que nossas ações poéticas e protestos tem a capacidade de surpreender.



Corposinalizante

Inserções em circuitos ideológicos

Arte antes e depois de Cildo Meireles

(...) Na verdade, as "Inserções em circuitos ideológicos" nasceram da necessidade de se criar um sistema de circulação, de troca de informações, que não dependesse de nenhum tipo de controle centralizado. Uma língua. Um sis­tema que, na essência, se opusesse ao da imprensa, do rádio, da televisão, exemplos típicos de mídia que atingem de fato um público imenso, mas em cujo sistema de circulação está sempre presente um determinado controle e um determinado afunilamento da inserção. Quer dizer, neles a 'inserção' é exercida por uma elite que tem acesso aos níveis em que o sistema se desenvolve: sofisticação tecnológica envolvendo alta soma de dinheiro e/ou poder.

As "Inserções em circuitos ideológicos" nasceram com dois projetos: o projeto "Coca-Cola" e o projeto "Cédula". O trabalho começou com um texto que fiz em abril de 1970 e parte exatamente disso:

1) existem na sociedade deter­minados mecanismos de circulação (circuitos);

2) esses circuitos veiculam evidentemente a ideologia do produtor, mas ao mesmo tempo são passíveis de receber inserções na sua circulação;

3) e isso ocorre sempre que as pessoas as deflagrem.


Cildo Meireles

"Quem matou Herzog?" projeto Cédula, Cildo Meireles, 1970.


"Vendo ao seu redor" e "É irreal", grupo MICO, 2000.




"Queremos legenda em filmes nacionais", autor anônimo, 2009.

Texto e imagens: Corposinalizante